terça-feira, 31 de julho de 2012

Limões e limonada


Meus ódios são passageiros, meu amores, claudicantes e meus desprezos, perenes. Nunca tive medo de odiar. Quando enfureço, sou inofensivo. No máximo, sussurro palavrões secretos. Meu maior pavor é desprezar. Pelo simples fato de ter-me graduado em esquecer. Hoje sou um ás em mutilar. Sei produzir amnésia. Treinei, treinei para ganhar faixa preta em olvidar. Sou culpado de homicídios – todos emocionais. Frio, posso esquartejar e jogar fora os pedaços de quem eu quiser. Calculista, assassino. Meu punhal se chama desdém.
Amo com dificuldade, mas esqueço sem esforço. Viro as costas e pronto, acabou. Apago o contorno dos olhos da pessoa. Anulo seus cheiros. Rasgo todos os registros de memória. Raspo o que estava grudado na minha pele feito tatuagem.  Jogo numa lixeira virtual todos aqueles que me feriram.
Nunca tramo vingança. Não há necessidade. Para quê se já me tornei hábil em diluir no ácido do pouco-caso todos os que me feriram?
Não, nenhuma dessas afirmações merece louvor. Reconheço, peco contra mim mesmo. Ao desprezar, me mutilo. Acabo com a possibilidade do perdão. Lacro a porta da misericórdia.
Admito sem glória: careço da nobreza dos mansos.  Não consigo, porém, exumar pessoas que me golpearam e que soterrei. Tenho medo. Ressuscitar quem me magoou pode virar um fantasma, a assombrar-me por décadas. Arrancar da alma eventos e pessoas, admito, aleija. Não gosto da indiferença.
Sou melindroso; igual à folhinha que se encolhe no toque sutil. Internalizo frases, gestos, atitudes. Chego a invejar quem tira de letra deserções. (Sim, mereço o divã da psicanálise). Crio casca. Para sobreviver a um baque, revisto o coração de insensibilidade. Imagino o tempo como gaze que enxuga lágrimas. Semelhante ao homem parcialmente curado por Jesus, que confundia pessoas com árvores, meu estado emocional é o pior possível. Ele enxergava parcialmente. O que sinto é uma inquietação parcial, estagnada entre o desprezo e o ódio.
Reconheço a enormidade do problema. Nessa latência, vou me tornando um granito. A cada deserção, acumulo nova camada geológica. Em cada decepção, me fecho na torre do Quasímodo. A cada traição, fico mais parecido com Dantès, o Conde de Monte Cristo. A cada, ano admiro mais Dom Casmurro.
Entre todos os aprendizados, reconheço: preciso matricular-me no liceu da amabilidade. Prometo a cada último dia do ano: hei de acolher quem joga pedra, compreender quem é torto de inveja e caminhar duas milhas com quem conspira para me destruir. Fracasso sempre. Por enquanto, só consigo oferecer indiferença.
Apaixonei-me pela estrada percorrida por Jesus de Nazaré. Ele venceu o ódio sem punhal. Desarmado e munido apenas da bondade, atropelou o mal. Sem contar com exército de nenhuma espécie, transformou a ternura numa força admirável.
Eu, porém, não passo de luz que esmorece na aragem leve. Basta um sopro de perfídia e já me apago. Cubro-me de indiferença. Preciso afastar-me do que Brás Cubas, de Machado de Assis, chamou de pior filosofia: “o choromingas que se deita à margem do rio para o fim de lastimar o curso incessante das águas”. Talvez seja importante não permitir que minha desafeição vire choromingo. Por enquanto, resta, sem mesura, acolher o surrado provérbio: “se lhe derem limões, faça uma limonada”. Vamos ver se consigo.
(Ricardo Gondim)

domingo, 29 de julho de 2012

Pesado

Tô meio cansada.
Tô um pouco cansada daquilo que é demais. Daquelas coisas, crises, reações, palavras que são as únicas que você não precisa, não há paz. Chega de crises, por favor!!!
Eu preciso de cheiro, de gente, de erro, de acerto, de aprendizado, de descanso, de brincadeira, de beijo. Eu preciso de choro, de gargalhada, de abraço e brigas com a amiga quando as tpm's coincidem. É, é disso que eu quero: pessoas com problemas, não pessoas problemáticas.
Mas se elas vierem... que venham com muito amor, aprender junto comigo como se é ter problemas e ser feliz. Preocupação demais com os próximos 5 minutos ou 5 anos é falta de dependência do Pai.
"Viva livre, feliz e despreocupado -
Você não será jovem para sempre.
Afinal, a juventude se vai como uma neblina."
(Eclesiastes 11:10)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ela

Olha como ela dança!
Ela é samba,
Sincopada!
Cada batuque posto devidamente em seu lugar.
Ela é jazz!
Harmonia desarmônica que treme quando se faz.
Ela é singela e pura bossa nova.
Música, o movimento que se conhece de longe.
Ela é Giulia:
Corpo de gazela, olhos (alma e cabelo) de leão.
(Matheus Schmaelter)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dia do amigo


Nunca achei que fosse tão real. Nunca achei que fosse tão eficaz. Nunca achei que fosse mesmo igual remédio. Mas são! Cada um exatamente me preenchendo com a particularidade tal. Mas eu gosto MESMO de alguns...
Gosto mesmo é daqueles meus amigos desapegados. Daqueles maduros o suficiente para serem crianças comigo. Gosto mesmo daqueles sensíveis, eles não precisam ser fortes. Daqueles sensíveis o suficiente pra sentirem a minha dor. Daqueles que me dão bronca porque eu caí e ao mesmo tempo estão passando remédio no meu machucado. Gosto mesmo daqueles que riem das nossas desgraças e tornam elas pequenas. Gosto mesmo daqueles que mandam eu calar a boca quando estou cantando no chuveiro, ou quando me chamam de idiota por estar rindo de mim mesma. Gosto daqueles que são espirituais, tão carnais como Jesus. Gosto daqueles que são próprios cama-elásticas: não nos deixam cair e ainda nos colocam lá em cima. Gosto mesmo daqueles que ouvem todas as minhas coisas e não as usam contra mim! Gosto mesmo daqueles de longa data, que nos conhecem no coçar da cabeça. Gosto também dos que chegaram a pouco, mas amam como a muito. Gosto mesmo daqueles que lembram de mim em textos e músicas. Gosto mesmo daquela que me carregou no ventre. Gosto daqueles que provam do meu silêncio e fazem dele ausência em todo lugar. Gosto mesmo daqueles amigos que louvam comigo, mesmo com a casa caindo! Gosto mesmo daqueles amigos com cheiro de café... Gosto mesmo daqueles amigos que moram longe, mas estão mais perto do que alguns que são vizinhos. Gosto mesmo daqueles que sumiram, mas apareceram quando eu precisei: Eita, esses são bons! Gosto mesmo daquela que se tornou irmã de alma... E gosto daquele simples, daquele que me tirou muitos, mas me deu vocês, o Aba, o meu melhor amigo!
Um salve pra vocês que são meu conforto. (Conforto significa: "enfrentar com")
Só estou aqui porque tive a maior parte de vocês, que são a menor parte, construídas num pequenino e muito grato ser.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Suspiro

No meio das lágrimas e do choro, você geme: "Deus! Eu não aguento mais!"
Ele, por sua vez, te olha com um olhar de ternura. Olha um olhar humano. Te pega pelos confortáveis braços do jeito que você está, em posição de feto, leva a sua bochecha até encostar na bochecha dele e sussurra: "Filha, vai piorar!"
E você nem liga. Você nem liga porque você está ali. Porque não há nada melhor do que você ouvir Ele sussurrar, mesmo se for pra ouvir que as coisas não vão ficar bem. Nada mais te importa, porque a alegria dEle é a sua força. E, saiba: Ele está alegre por você estar ali, em posição de feto, dizendo à Ele sinceramente que pra você tá brabo. E é por isso que Ele também é sincero e diz que as coisas ainda vão piorar, vai haver força pra você.
E dessa vez, você vai chorar. E vai chorar de gratidão com a mesma intensidade por perceber que você tem tido força, e que não é por você. Porque se fosse por você, você já teria estragado tudo. Ansiedade mata. E aí, Jesus põe em você mais dEle. E faz o maravilhoso mix de humanidade e graça.
E agora, chore. Chore mesmo, as coisas estão piores. Mas permaneça quieto. Ele vai continuar sendo por você... e força pra gritar que a glória é dEle no lindo final vai ser infinitamente maior. Porque a alegria do Senhor é a sua força.
Mas enquanto as coisas estiverem piorando, fique quieto. Deixa a sua bochecha colada com a bochecha dEle... fica tudo inenarravelmente mais suportável.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Substituição de justificativas

"Os marginalizados da terra ficam sabendo que Deus está do lado deles." (Mt 11:6)
"Jesus escutou a crítica e reagiu: 'Quem precisa de médico: quem é saudável ou quem é doente? Pensem no significado deste texto das escrituras: 'Procuro misericórdia, não religião'. Estou aqui para dar atenção aos de fora, não para mimar os da casa, que se acham justos." (Mt 9:12-13)
"(...) Considerem-se abençoados sempre que forem agredidos, expulsos ou caluniados para me desacreditar. Isso significa que a verdade está perto de vocês o suficiente para os consolar - consolo que os outros não tem. Alegrem-se quando isso acontecer. Comemorem, porque ainda que eles não gostem disso, eu gosto! E os céus aplaudem, pois sabem que vocês estão em boa companhia." (Mt 5:11-12)
"Ele os ignorou e disse à mulher: 'Sua fé a salvou. Vá em paz!'" (Lc 7:50)
"Se vocês estão pensando: 'Como podemos arrasá-lo, pois a culpa dessa aflição é toda dele?', Esqueçam! Comecem a se preocupar com vocês mesmos. Preocupem-se com seus pecados e com o juízo divino, pois não há nada mais certo que o julgamento." (Jó 19:28-29)
"(...) Deus é que decidirá o destino da humanidade. Quem vocês pensam que são para se intrometer na vida alheia?" (Tg 4:12)
"(...) Mas, se alguém cometer pecado, temos um Amigo-Sacerdote na presença do Pai: Jesus Cristo, o justo. Quando ele se entregou como sacrifício por nossos pecados, resolveu para sempre o problema do pecado - não apenas os nossos, mas os do mundo inteiro." (1 Jo 2:1-2)
"Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus." (Rm 8:1)
AMÉM!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Criança humana

Dois meninos na rua. Estão no chão, um em cima do outro, estão brigando. O menor diz: "você venceu, cara..."
Eles levantam, o maior tira a mão do bolso da bermuda e pergunta ao outro: "Quer metade do meu chiclete?" 
O outro diz: "Quero", e eles saem conversando...
Quero voltar a ser criança, quero fazer o que Jesus falou! Mas acabou a infância, acabou o doce... como faz???
A gente procura gente. Procura gente que quer ser criança também, junto com você. Pra te oferecer o último chiclete depois de se estapear... infância é evangelho. É esquecimento do erro, é compartilhar, é paz, é conforto.

‎"E se o que era doce acabou, depois que a banda passou, que venha outra banda, Chico, e que nunca uma banda como essa deixe de musicalizar a alma da gente." Drummond